Mondazzoli, La nave di Teseo e algumas palavras sobre independência
24/11/2015 blog

de Giuseppe Avigliano

O affaire Mondazzoli (palavra com a qual os jornais italianos designaram o grupo editorial resultante da união entre a Mondadori e a Rizzoli), enquanto se aguarda o veredicto da Autoridadeda Concorrência, paira sobre o mundo editorial italiano como a sombra do Ciclope da ilha onde Ulisses atraca. O nome com que foi apelidado o nascimento do maior grupo editorial italiano – entre os maiores do mundo – soa mal: tem todas as características, pelo menos fonéticas, do monstruoso próprio do Ciclope, mas acrescenta, no entanto, uma sugestão – que é toda ela italiana – a caricatura típica da personagem de Fantozzi, o contabilista que simboliza a classe de funcionários de escritório na Itália da década de 1970.

O facto é que, com este gigante burlesco – chamêmo-lo assim, por enquanto – temos de confrontar-nos desde já, mesmo antes do seu nascimento oficial, pois as consequências começam a materializar-se.

Archinto e Adelphi foram os primeiros a subtrair-se a esses jogos. Sem demasiado ruído, desde o início, Rossellina Archinto e Roberto Calasso trataram de afastar as suas editoras do grande grupo editorial e de se posicionar na área dos editores independentes.

A história foi completamente diferente no caso da Bompiani. De nada serviram tumultos, apelos e manifestações: «tanto barulho para nada», como se costuma dizer.

Na verdade, a editora continuou a fazer parte das negociações, com toda a sua equipa de intelectuais turbulentos e dirigentes ocupados, para depois voltar ao centro das atenções, com os anúncios dos últimos dias.

La nave di Teseo é a nova editora que, basicamente, herda a equipa da Bompiani para se aventurar no mundo das editoras independentes. Mas seria preciso fazer uma reflexão sobre esta palavra, independente, que agora está na moda no mundo editorial e que, na maioria das vezes, é uma mera operação de publicidade, como as garrafas de azeite que são vendidas nas prateleiras dos supermercados reclamando nos seus rótulos uma extra-virgindade na qual apenas os consumidores iniciados no mistério da conseguem acreditar.

Hoje existe independência relativamente ao proprietário . Pouco importa tratar-se de Berlusconi, Murdoch ou Mauri. O único mantra, num ambiente que está saturado e em declínio como o daedição, é o dos quatro mil exemplares a vender. Ponto.

A verdadeira independência que devemos tentar obter – e aqui teríamos de travar uma batalha a sério – com soldados e contra-bateria – é a que diz respeito à distribuição. As primeiras notícias que tivemos desde o nascimento da nova editora La nave di Teseo é a de que provavelmente irá ser distribuída pela grande distribuidora Messaggerie. Sim, leram bem: o maior responsável pelos pesados custos que afectam editores e livreiros e obriga os primeiros – os mais pequenos, pelo menos – a abandonar a grande distribuição e os segundos – o mais autónomos – a encerrar as suas lojas.

Não haverá uma renovação na edição até a política dos grandes distribuidores mudar. Alguns pequenos editores e livreiros – verdadeiramente independentes –já estão a trabalhar nisso, com imenso esforço.

La nave di Teseo, no entanto, é apenas uma forma de mudar, sem mudar nada. A simplificação mais banal, a interpretação mais vil, do paradoxo de Hobbes. A independência é outra coisa.

Facebooktwittergoogle_plusmail



« »