O romance da Nação, de Maurizio Maggiani
02/09/2015 blog

de Giuseppe Avigliano

Se alguém como Maurizio Maggiani publica um livro com um título tão ambicioso como Il romanzo della Nazione, é inevitável: cria-se no mundo literário um pequeno big-bang de expectativas.

Sim, porque há muitos anos que em Itália se espera o romance que marque uma época. Que encerre um período para abrir um período novo. Que mude a paisagem em torno de si.

Maurizio Maggiani e o seu último livro eram candidatos a esta tarefa tremenda: mesmo que tal não fosse propositado, bastava o som dos dois substantivos do título e as poucas informações existentes sobre o enredo para deixar adivinhar uma nova ideia de narrativa.

Mas é melhor dizê-lo desde já: o livro não é capaz de cumprir esta promessa.

Il Romanzo della nazione é mais um livro do género intimista, já explorado em todas as suas variantesno mundo editorial italiano.

Edoardo Nesi e Francesco Piccolo são dois dos mais bem sucedidos autores deste tipo de romance; a narrativa é toda concentrada na figura do escritor que se move através das páginas do romance, juntamente com as personagens, enchendo o livro de contínuas digressões umbilicais, num vortex introspectivo sem fim.

Mas vamos ao romance em questão. Tudo começa com a morte do pai. E aqui inserem-se cerca de 150 páginas para contar a sua vida. Há Kafka, algumas reminiscências de Freud e a tentativa de uma reconstrução histórica, mas nunca a escrita consegue tornar-se verdadeira narração. Tudo permanece ao nível de uma história pessoal: as janelas do romance permanecem teimosamente fechadas, a nação está fora da obra, noutro lugar.

Depois, superado o processo de elaboração do luto, ao qual é forçado também o leitor, segue-se um longo capítulo de histórias de homens que fizeram a Itália, na época do Risorgimento, trabalhando em estaleiros de obras em toda a península. Trata-se de histórias devolvidas à História, o resultado de uma minuciosa busca do autor, que seria interessante num folheto de objectivos modestos. Não é claro, no entanto, porque foram inseridas nas páginas deste livro, entre memórias de família e as autocelebrações do autor. Parecem estar lá para justificar o título do romance: como se um capítulo pudesse resolver sozinho as ambições do projecto inicial.

Maggiani menciona igualmente dois excertos que poderiam ter sido o incipit do romance, quando era apenas um projecto e o autor começava a tomar notasNo primeiro Cavour coça uma verruga no nariz com o revestimento de pele de um telescópio, enquanto observa , a partir de um miradouro, a vista para o Golfo de La Spezia.

No outro incipit descartado, por outro lado, há um homem e uma mulher de origem italiana numa sala de um hospital palestiniano.

Parece-nos claro que este livro deveria ter sido outro, consideradas as intenções do autor. Os bons propósitos estavam todos lá. O que fica, no entanto, é apenas o esboço de um romance claustrofobicamente focado nas memórias de família e que nunca consegue ter o fôlego suficiente para contar a história de uma nação, nem mesmo nas melhores páginas.

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